Um preso no Japão, pode receber visitas apenas uma vez por mês e por 15 minutos no máximo. A conversa deve ser em idioma japonês e acompanhada por um guarda que fica atrás do preso. Porém, se a visita é feita por uma autoridade brasileira, pode se falar português e não existe limite de tempo.
Segue abaixo a transcrição da carta exatamente como foi escrita. Apenas mudei o nome do endereçado para "Senhor".
"Oi, Senhor, Tudo bem?
Senhor,
A visão que eu tenho de família aqui no Japão é a seguinte:
A gente começa a trabalhar muito cedo, sem noção do que fazer com o dinheiro. Dinheiro na mão e pouco juízo.
Vivemos na rua. A rua e os amigos se tornam importantes. Queremos fazer parte do ambiente aonde tentamos nos formar e fica difícil dizer não. As más companhias...
Às vezes sabemos que é errado, mas e daí? Quem vai ligar, quem vai nos repreender? Nossos pais?
Sabemos que eles estão muito ocupados para prestarem atenção em nós. Os pais ficam com aquela idéia fixa de que o futuro do filho está no dinheiro e eles tentam juntar e às vezes não conseguem. Não conversam com os filhos sobre sexo, drogas e vários outros assuntos. E sempre evitam conversar.
Tá todo mundo aprendendo na rua e na rua, o que aprendem é bem diferente do certo.
Em muitas rodas de amigo, quem não usa, não transa, é visto como diferente. É posto de lado.
Ninguém quer isto. Não sabe dizer não.
A facilidade de obter drogas, mais a influência dos amigos é fatal. As drogas estão de um jeito no meio dos jovens, que é bem pior que os pais imaginam.
Não é a toa, que os traficantes gostam tanto de fazer amizade com os brasileiros. Sabem que a onda dos usuários do cristal é grande.
O pessoal começa usando pouco e vai aumentando. Depois não conseguem trabalhar, aí caem no roubo. Só vai piorando e um puxando o outro.
Não é só coisa de meninos não. Tem muitas meninas usando drogas.
Essa hora que os pais tem que conquistar a confiança dos filhos, para que eles vejam nos pais um porto seguro, para onde podem correr quando se sentirem perdidos.
Mas a maioria vê nos pais, apenas um chato que só sabe reclamar.
São vários os sinais quando a coisa está indo mal. Não param em serviço, ficam um, dois, três dias sem aparecer em casa, não comem e por aí vai... Só não vê quem não quer.
Não é coisa de idade, como muitos dizem.
O pior, é que o amor dos pais, se esfriou. Eles não querem ter mais trabalhos em casa do que já tem na fábrica. Por isso, fingem não ver muitas coisas.
Os pais se arrependerão muito quando verem tarde demais. O que falta no filho é o mais importante. Nenhum dinheiro do mundo pode comprar. Apesar de ser de graça, eles não deram.
Um filho sem educação, não dará o mínimo valor ao suor dos pais. No lugar do amor terá uma grande revolta para onde viram. As lágrimas serão sempre sua companheira junto as dos pais.
A cadeia será o destino de muitos jovens aqui no Japão?
O erro é de quem?"
- Carta de um jovem detento no Japão -